terça-feira, 21 de abril de 2015

Cuteleiro de Sorocaba fabrica facas de uso exclusivo do Exército Brasileiro

Por Ana Carolina Chinelatto

O facão "onça negra" é de uso exclusivo de militares formados no CIGS
Foto: Ana Carolina Chinelatto

Fabricar uma faca para os militares do exército brasileiro formados no curso do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). Esse era o sonho de Ricardo Vilar, que mora em Sorocaba (SP) e é cuteleiro há 23 anos. Em 2005 ele recebeu o convite e no ano seguinte lançou o facão do guerreiro de selva. Além desse, um outro modelo de faca foi desenvolvido para a Brigada de Infantaria Paraquedista, outro segmento do exército.
       
O aço é desbastado para que a lâmina
         seja "afiada". Foto: Ana Chinelatto
Além de Vilar, o cuteleiro Zakharov, que é de Minas Gerais, também fabrica uma peça exclusiva para o CIGS, as diferenças são o tipo do aço, o tamanho e a cor da cabeça da onça, que na do primeiro é preta e do segundo dourada. De acordo com Vilar, a faca do CIGS deve ser funcional principalmente para a sobrevivência do guerreiro, que deve usa-la tanto para o corte da mata densa quanto para a caça. O aço é forjado a uma temperatura de 1.200ºC (veja no vídeo abaixo) e a peça é finalizada com a cabeça de uma onça, que o profissional desenhou e esculpiu inicialmente. O facão carrega símbolos, além de um número de série, por isso é de uso exclusivo de quem se formou no curso. “Muitos militares querem comprar a faca sem terem feito o curso, mas não posso vender. Eu fabrico só o número de peças que é solicitado, cada uma possui um registro”, explica.


  

Um outro modelo de faca do CIGS foi confeccionado em comemoração aos 50 anos do Centro e tem autorização para ser vendido inclusive para civis. De acordo com Ricardo, a peça é personalizada: a lâmina possui 22 centímetros de comprimento, em referência ao número de comandantes e 5 milímetros de espessura em menção ao número de anos.
     
                                                                   
A faca da Brigada de Infantaria Paraquedista foi usada por um bombeiro para
salvar uma família. Foto: Ana Carolina Chinelatto
O cuteleiro conta que muitas peças têm uma história especial e uma das que mais marcou foi a da Brigada de Infantaria Paraquedista – que tem autorização para a venda - utilizada por um bombeiro do Rio de Janeiro para salvar uma família. “O carro tinha caído em um barranco e ele só tinha acesso ao vidro traseiro. Ele conseguiu cortar o vidro com a faca e salvou as pessoas. Eu dei uma nova para ele e a antiga virou o meu troféu”, conta.  

Além das facas de uso militar, Vilar também produz peças para outras finalidades, como para uso em acampamentos, por exemplo. Mas os modelos que o cuteleiro mais gosta de fazer são os artísticos. Esses são únicos, demandam mais tempo e criatividade. “Eu não aceito desenho pronto. Gosto de pensar em cada detalhe e utilizar materiais diferentes. Teve faca que usei coral marinho no cabo e algumas faço detalhes em ouro”, diz.               

                                        
A coleção de Paulo de Souza tem aproximadamente 80 peças
Foto: Arquivo pessoal
O empresário Paulo Guilherme Amerise de Souza aprendeu a gostar de facas com o pai e há 15 anos coleciona armas brancas. Hoje a coleção dele tem aproximadamente 80 peças. “Tenho facas, canivetes e soco inglês. Meu pai era colecionador. Além dessa, também faço coleção de isqueiros ”, conta.   

Paulo conheceu o trabalho de Ricardo por meio de um amigo e adquiriu uma fala do cuteleiro. De acordo com o empresário, uma outra de aço damasco está sendo fabricada. Mas ele não esconde quais são as preferidas. “Gosto muito da Aitor Oso Blanco e da Ka Bar. Os 12 canivetes puma que tenho também são os meus xodós”, finaliza. 



A faca Aitor Oso Blanco é uma das preferidas do empresário
 Foto: Arquivo pessoal

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Xé, correndinho, revertério! Gírias e sotaque do interior fazem parte de nossa identidade cultural

Por Gabriel Cariello

A língua portuguesa é um dos legados deixados por Cabral e companhia assim que colonizaram nosso país. Porém, quando conversamos com nossos amigos lusitanos, temos dificuldade em entendê-la, seja pelo sotaque “bagunçado” ou até mesmo pela diferença no vocabulário (em Portugal, bicha seria fila, rebuçado é pirulito). Mas mesmo aqui dentro de nosso país nós achamos uma dificuldade em entender nossa própria língua materna. Um nordestino não fala da mesma maneira que um carioca, nem um gaúcho fala igual a um mineiro. E aqui, no interior de São Paulo, o que predomina é o sotaque forte, o sotaque “caipira”.


José Lúcio ainda não substituiu o
"tchê" pelo "xé". Foto: Arquivo Pessoal
O nosso sotaque carregado para alguns pode parecer engraçado. A maneira que nós falamos porta (pronuncia-se porrrrta) ou dente (carrega-se o sotaque na sílaba –te) chama atenção de quem é de fora. O estudante de Publicidade e Propaganda José Lúcio dos Santos é de Porto Alegre-RS e mora em Sorocaba há quase um ano e meio. Uma das principais diferenças que José notou na maneira de falar logo que achou na cidade foi o uso do pronome de tratamento. “Nós gaúchos usamos o ‘tu’, e as pessoas aqui de São Paulo usam ‘você’, conta Lúcio. Os paulistas também notaram o seu sotaque logo que perceberam que ele era de fora. “Alguns acham bonito, outros acham estranho, mas com o tempo a gente acostuma. Hoje já consigo falar igual o pessoal de Sorocaba, mas ainda prefiro manter meu ‘gaúchês’”.

De acordo com a professora de Língua Portuguesa Márcia Palomo, os sotaques aparecem em razão de diversos fatores. “Como aqui no interior, tivemos influência dos bandeirantes, europeus e até mesmo indígenas, é provável que a nossa maneira de falar tenha vindo deles”, explica. “Quando ouvimos alguém dizer ‘Nós fumo a algum lugar’ achamos que isso é um traço caipira, ou uma forma errada de conjugar o verbo, o que não deixa de ser verdade,  mas fumo também é a conjugaçao da primeira pessoa do plural do verbo ‘ser’ em italiano no passado, o que pode ser um resultado da influência de diferentes povos no nosso jeito de falar”.

Para Márcia Palomo, o nosso modo de falar pode ser
 influência de vários povos. Foto: Gabriel Cariello
Outra fator relevante na nossa maneira de falar são as gírias. Mas Márcia alerta que nem tudo é gíria. “Gíria é um vocabulário específico de um grupo social, é não um modo de falar ou uma forma de se expressar.” Uma das gírias mais ouvidas no interior de São Paulo é o ‘xé’, usada para demonstrar negação ou surpresa a algo. “Quando ouvi o ‘xé’ pela primeira vez, achei muito engraçado, mas também me lembrou o ‘tchê’ que falamos muito no sul”, lembra o estudante José Lúcio. Conjugar o gerúndio no diminutivo também é bem comum por aqui: “Hoje eu vi aquele menina andandinho pela praça”, ou seja, andando de forma lenta ou calmamente. Além disso, ouve-se bastante dizer que “foi uma gastura fazer esse trabalho” quando algo é muito cansativo.

Não se sabe de onde vem exatamente uma gíria, mas elas se espalham com facilidade e entram na rotina. Dizer por exemplo que está “chovendinho” ou ir “correndinho” a algum lugar, pode se tornar um vício na linguagem. Márcia alerta que o uso excessivo de gírias pode atrapalhar na comunicação. “Principalmente quando você conversa com pessoas que são de fora, que não tem conhecimento dos seus costumes, elas podem te entender de maneira errada, então é preciso tomar cuidado para não usá-las exageradamente”.


E você conhece algumas gírias do nosso interior? Castele algumas gírias abaixo para sua conversa não virar um forfé! Dá um clique nelas e confira!





sábado, 4 de abril de 2015

Super-heróis entregam pizzas em Sorocaba

Por Ana Carolina Chinelatto

Possivelmente você já deve ter visto o Batman nas telas enfrentando os inimigos e percorrendo as ruas de Gotham City com o Batmóvel, mas já viu ele andar de moto pelas ruas de Sorocaba (SP) entregando pizza? Ele não é o único! O Robin, o Hulk, o Wolverine e o Lanterna Verde estão há cinco meses no novo emprego, nas horas em que ninguém corre perigo.  


Quando chega a noite, Felipe Prado e Danilo Oliveira
vestem seus uniformes e se preparam para tentar acabar
com  a fome em Sorocaba.  Foto: Ana Carolina Chinelatto
Quem conseguiu a proeza de convencer os personagens a entregar pizza no tempo livre foram os amigos Danilo William Gomes de Oliveira e Felipe Prado. Desde que cursavam Comércio Exterior juntos eles já tinham o espírito empreendedor, porém a ideia de vender bijuterias pelo preço que o cliente quisesse pagar não deu muito certo. Ao ver uma reportagem na internet, Danilo teve a ideia de abrir o novo negócio: vender pizza fantasiado de super-herói. “Eu vi uma matéria sobre crianças que se iam ao hospital fazer tratamento de câncer vestidas de super-heróis e assim se sentiam mais fortes para enfrentar a doença. Então eu pensei em entregarmos vestidos assim e discuti a ideia com o Felipe”, conta.

A brincadeira começa com a ligação do cliente. Quem está na recepção atende o telefone e se identifica como um dos personagens:

- Boa noite, Wolverine falando, qual é o seu pedido?
Felipe conta que dessa maneira conquista a clientela. "Quando falamos o nome do herói quase sempre as pessoas riem. Assim a relação fica mais descontraída e o gelo se quebra", explica.

A criatividade dos empresários não para por aí. O cardápio também é diferenciado e oferece pizzas com nome dos heróis. A de atum, por exemplo, leva o nome do Aquaman e a baiana, Tocha-humana.



As crianças esperam fantasiadas. Foto: Arquivo Pessoal
Cerca de 80% dos pedidos vêm de casas com crianças. Os empresários afirmam que com os pequenos a diversão é garantida e que muitos deles, esperam caracterizados. “Tem criança que escreve carta para nós, que abraça e não quer soltar e as que ficam fantasiadas para tirar foto. Uma vez fui de Lanterna Verde e o menino perguntou se eu fui buscar a pizza dele no espaço”, brinca Danilo.


Conrado Brégula, 7 anos,  foi surpreendido ao ver Robin e 
Lanterna Verde como entregadores de pizza. Foto: Arquivo Pessoal

A primeira vez que Cristiane Brégula viu o anúncio do estabelecimento em uma rede social quis fazer o pedido, pois sabia que o filho Conrado de 7 anos ficaria surpreso. Segundo a assistente financeiro, o primeiro personagem que fez a entrega foi o Superman e a reação do  menino foi melhor do que a esperada. “Meu filho ficou enlouquecido! Ele achou um pouco estranho, pois nunca tinha ouvido falar que ele (o super-herói) entregava pizzas, mas achou o máximo e quis tirar foto”, lembra.

Mas não são só os pequenos que ficam felizes com a presença de um super-herói. De acordo com Felipe, muitos adultos, principalmente quando estão reunidos em grupos, fazem o pedido. “Normalmente eles pedem o Batman e o Robin e é sempre uma festa. Nos convidam para entrar, bater um papo e é claro, tiram muita foto",  revela.                                                                                                                                                                        
Segundo Felipe, é a entrega é sempre emocionante, mas a mais inusitada que eles fizeram foi em uma balada que fica no bairro Campolim. Ele contou que a pizza foi um pedido de um famoso dj que fazia a apresentação da noite. “Nós entramos na balada fantasiados e passamos pelo meio da pista, foi uma experiência incrível”, relata.